curiosidades

BEM VINDOS !


Caros amigos, apreciadores da arte e da tecnologia de relojoaria, de todos os tempos. Este blog é nosso . Colaborem com as vossas ideias e sugestões.

Caros visitantes este Blog vai passar a ter duas páginas. Esteja atento à nova página: TECNOLOGIA DE RELOJOARIA.

BEM VINDOS !

Jaime F. Ribeiro

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

VALOR DE COLECÇÃO




De um leitor brasileiro, deste blog,  o senhor Eng. José Liparizi, recebemos um pedido de ajuda, na identificação   do  fabricante  do relógio de bolso que mostramos em baixo.
Diz-nos aquele amigo,   ter descoberto na relojoaria  um " hobby " que está a  aprofundar, na  medida em que   a sua motivação  vai  crescendo  proporcionalmente ao conhecimento que vai adquirindo  sobre   ciência / arte  dos relógios o que já faz dele, hoje, um notável coleccionador de peças  de referência .


 
 Mostrador com informação do ano, do mês, dia da semana e dia do mês


Mostrador com foto, certamente do seu proprietário  ou construtor ?





       
O mecanismo pode ter sido adaptado, a partir de um outro importado



É curioso verificar  que toda a informação  contida nos mostradores, frente e verso, está redigida em português. Este facto  fez o nosso amigo brasileiro supor, que se trata de uma peça de origem portuguesa  e devemos  afirmar que acreditamos assim ser.
E, ainda que não seja fácil identificar o autor  desta peça que,  a avaliar pela informação contida no mostrador, parece ter construída  no ultimo quarto do século IXX , este detalhe faz-nos  reduzir substancialmente o número de opções .
De   facto, sabemos que a partir de meados  do século XVIII se inicia em Portugal uma significativa actividade  de relojoaria, com a criação da Real Fábrica de Relojoaria , em Lisboa, que vai dar origem à produção nacional de diversos relógios de torre, parede e outros ditos de precisão ( bolso ? ). Na sequência desta actividade  surgem, um pouco por todo o país,  relojoeiros  de grande nomeada,  particularmente concentrados em Lisboa, Coimbra, Porto e Minho.
Por volta  de 1880  existe, em Lisboa, um relojoeiro  famoso, de nome Augusto Justiniano de Araújo, que desafia, com as suas criações, o que de melhor  nos chega da Europa. Este relojoeiro, então conhecido com  " Sábio Construtor de Relógios ",   esteve particularmente em foco,  quando apresentou, na Exposição Industrial de 1888 um relógio, de sua autoria, a que chamou de " Cosmocronómetro " ,  que acreditamos conter muita da informação que agora nos aparece, nas fotos  do  relógio que apresentamos . 
Devemos  realçar que o relojoeiro Justiniano de Araújo, não era um curioso   da mecânica,  estudou engenharia no Instituto Industrial de Lisboa, o que lhe permitia ter um entendimento  correcto  sobre desenho, construção e funcionamento  de aparelhos mecânicos.
Segundo  relatos históricos, sabemos ainda que  muitos dos  relógios deste " Sábio  Construtor de Relógios " foram exportados, nomeadamente para o Brasil, Angola e Açores o que vem dar dar credibilidade à possibilidade  do relógio  que mostramos , em cima, ser de sua autoria.
Por último queremos lembrar  Augusto Justiniano de Araújo, foi o fundador, em 1895, da  Escola de Relojoaria  na Real Casa Pia de Lisboa, que tendo  fechado nos primeiros anos  do sistema republicano, reabriu em 1951.
       
Depois destas " Dicas ",  agradecemos  toda a informação  que possa   ajudar  o  nosso  amigo  José Liparizi, a identificar o autor da sua " jóia " da  relojoaria  ( certamente portuguesa ),  do  século IXX.



 



segunda-feira, 16 de julho de 2012

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O TEMPO E A HORA

O Problema da Hora na Actualidade - Extractos
Relatório de 1948 da autoria do Eng.  Geógrafo José António Madeira


3 -  A Precisão Actual  da Determinação e Conservação da Hora ( 1948 )


"No texto deste relatório referimo - nos à possibilidade de medir intervalos de tempo da ordem do centésimo  milésimo do segundo e mesmo do milionésimo . A medição destas grandezas  é hoje  um facto que está fora de qualquer  discusão, tendo entrado já na prática corrente  da astronomia e da física, pois de contrário teríamos que negar a utilidade  das inúmeras  aplicações do radar, das medidas balísticas de alta precisão, das  comparações de frequências  com a precisão de 1.10 ( levantado a -9 ) e de outras de natureza semelhante ".


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"Para melhor compreensão do problema sobre a precisão da hora, entendemos separá-lo em três partes, de harmonia com a realidade actual. 
Assim  referir-no-emos à  chamada hora extrapolada, hora interpolada e hora definitiva.


A hora extrapolada resulta  da utilização de várias pêndulas, quer baseando-se  unicamente nas observações  astronómicas do respectivo observatório, por métodos gráficos ou de calculo, quer resultante de um processo em que se atende não só à correcção da pêndula directriz, calculada por observações  meridianas, mas ainda  à correcção da mesma pêndula deduzida das recepções diárias de sinais horários. Este ultimo processo tem sido  usado no Bureau International de l'Heure".


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"A hora interpolada. Esta hora é obtida po meio das observações astronómicas e da própria pêndula  directriz ou da pêndula média do respectivo observatório".


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"A hora definitiva. Esta hora é calculada utilizando as recepções de sinais horários, as observações astronómicas e as pêndulas de um conjunto de observatórios, que constitui o chamado Observatório médio, e cujos resultados são enviados  regularmente ao Bureau International de l'Heure. É expressa em tempo de um meridiano muito perto do de Greenwich, cuja longitude em relação a ele, é igual à média dos erros da longitudes convencionais dos observatórios que cooperam na determinação desta hora . Por ocasião da 2ª campanha internacional das longitudes, em 1933 , a posição do Observatório Médio era de 15 milésimos de segundo de tempo a Este de Greenwich ".


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" Vê-se, portanto que o Problema da Hora na Actualidade, é uma consequência lógica e racional da evolução cientifica e técnica destes últimos anos. É em obediência a essa nova técnica e por premente necessidade da vida actual, que se procede agora à substituição quase total dos  dispositivos e métodos horários da época clássica, quer por instrumentos de observação  astronómica e de registo cronográfico, quer das próprias  pêndulas, mesmo das mais recentes que trabalham sob pressão e temperatura constantes" .


"a propósito da renovação dos seus equipamentos astronómicos  da hora, mormente na parte que diz respeito aos novos relógios  radioeléctricos :  " Nou possédons une horloge à quartz e nou sommes en train d'en faire construire encora 6 qui seront installées au cours de l'année  prochain "( director do Observatório de Neuchatel- 07 /10/1948).


    

quinta-feira, 7 de junho de 2012

O TEMPO E A HORA


O Problema da Hora na Actualidade - Extractos
Relatório de 1948 da autoria do Eng.  Geógrafo José António Madeira


2 - Apresentação do Relatório no Instituto para a Alta Cultura 

"Partindo de Lisboa em 15/3/47, apresentei-me no Bureau International de l'Heure, no dia 20 do mesmo mês, tendo começado os meus trabalhos nesse mesmo dia, sob a superior orientação do ilustre Director daquele Serviço, Doutor  Nicolas Stoyko, e em 21 fui recebido pelo Exmo. Director do Observatório de Paris, Prof. A. Danjon.
Em 6-7-48, parti para Londres, sendo recebido em 8 pelo Astrónomo Real de Greenwich, Sir Spencer Jones.
No dia seguinte, apresentei-me no Serviço da Hora, em Abinger, perto de Dorking North, alternado as minhas visitas    entre esta secção e as de Greenwich.
Em 18, visitei as instalações  dos " Relógios Falantes " de Londres, em Holborn Telephone Exchange.
De regresso ao Bureau International de l'Heure, visitei o Observatório de Bruxelas, em Uccle, retomando os meus trabalhos naquele estabelecimento científico em 26 de referido mês de Julho, os quais foram concluídos em 15 de Setembro do mesmo ano ".

...............

"No que respeita ao Serviço Nacional da Hora, cuja criação se propôe neste relatório, tive apenas  em vista prestar ao País uma modesta contribuição sobre os novos conceitos da hora, relacionados com as nossas necessidades científicas  e técnicas, neste ramo da ciência, visando assim um fim de verdadeiro interesse nacional.
Além do apetrechamento que se  descreve, estudou-se também o projecto de um novo transmissor de sinais horários, um pouco diferente  dos sistemas actualmente existentes nos observatórios estrangeiros ".
...............

"Suponho que o Serviço Nacional da Hora, compreendendo emissões de sinais horários científicos e de  frequências, é uma necessidade que se impõe não só pela posição geofrafica que ocupamos, quer na Europa, quer noutros continentes, como também pelos riscos que se poderia  correr, ficando dependentes da estratégia estranha, em caso de guerra, sabido como é por todos que bastantes emissoras emudeceram ou alteraram as suas gamas, durante a última conflagração mundial, sendo até utilizadas, algumas vezes, na cifra e na espionagem.
Como é lógico, um centro da hora nas  condições que se propõe, interessa a todos os serviços públicos e particulares,. mas mais  directamente àqueles que a seguir, indiscriminadamente, se indicam:
  • Emissora  Nacional de Radiodifusão
  • Direcção dos Serviços de Electricidade e Comunicações do Ministério da Marinha
  • Direcção dos Serviços de Hidrografia, Navegação e Meteorologia Náutica
  • Administração Geral dos Correios, Telégrafos e Telefones
  • Direcção Geral e Companhia dos Caminhos de Ferro
  • Companhia dos Telefones
  • Administração dos Portos  de Lisboa e do Douro e Leixões
  • Aeronáutica Civil e Militar
  • Serviço Meteorológico Nacional
  • Laboratório Nacional de Radioelectricidade ( a criar )
  • Estudos de balística e aplicações do radar e outras questões militares
  • Observatórios Astronómicos
  • Laboratórios de Física
  • Instituto Geográfico e Cadastral
  • Junta da Missões Geográficas ( Ministério das Colónias )
  • Empresas produtoras e distribuidoras de energia eléctrica
  • Universidades
  • Liceus, colégios e grandes escolas do ensino elementar e técnico
  • Hospitais
  • Ministérios
  • Grandes fábricas e casas bancárias, etc.
Posto isto, Excelentíssimo Senhor Presidente, consciente de ter cumprido, espero merecer a vossa aprovação ".
A Bem da Nação
Lisboa, 15 de Novembro de 1948
José António Madeira  


Nota do Blogger:


Não sei se o Serviço Nacional da Hora proposto, neste relatório, alguma vez foi constituído ou funcionou. O que sei, é que em 1965  aceitei um convite  da CNE- Companhia Nacional de Electricidade ( hoje REN ), para ingressar na companhia e aí desenvolver uma  Rede Horária, que fosse credível para clientes e fornecedores,  em virtude dos desfasamentos horários então existentes e dos custos  envolvidos.
Completado o projecto,  em 1966,  havia então que  construir os Relógios  especificamente concebidos para o efeito o que esteve  na  origem da  minha transferência para a Fábrica Nacional de Relógios - Reguladora SARL,  onde fui assumir o lugar de Director Técnico, em substituição   do meu   Mestre Suíço Walter Sutter, que entretanto havia regressado ao seu país. Em 1969 os Relógios começaram e ser fornecidos e em 1970 a  Rede Horária da CNE estava a funcionar com plena satisfação  dos interessados.

domingo, 3 de junho de 2012

O TEMPO E A HORA


O Problema da Hora na Actualidade - Extractos
Relatório de 1948 da autoria do Eng.  Geógrafo José António Madeira



1 - PRÉFACE

“ Les Service de l’Heure des Observatoires Astronomiques ont travaillé longtemps séparément, comme  s’ils  ignoraient les uns  les autres. C’est seulement quand on faisait des  determinations de différences des longitudes entre deux stations qu’on reliait entre eux les observatoires intéressés . Les campangnes de détermination dês  longitudes ont  soulevé chaque foi des questions três  importantes relatives à la précision de la détermination astronomique, à la conservationa et à la distribution de l’Heure. Mais ces opérations ont été discontinues de sorte que l’on n’a pu étudier ces questions importantes de façon ininterrompue.

L’introduction de la Télégraphie sans Fil dans la pratique astronomique pour la diffusion de l’Heure et la détermination des  longitudes, ainsi que la création du Bureau International de l’Heure, ont  donné un  essort considérable au problème de l’Heure.

Les services horaires ont cesse de travailler séparement. On fait, actuellement, la comparation des services horaires plusieurs fois par jour grãce aux signaux horaires radiotélégraphiques. Dès le début de l’utilisation de la T.S.F. ( année 1910), on  a remarque que la précision des services horaires était insuffisant. La surveillance dês écarts entre ces services a permis d’augmenter la précision de détermination astronomique de l’Heure et de sa conservation.

L’extrapolation de la correction de pendules qui présentait, avant l’utilisation dês signaux horaires un intérêt secondaire, a pris  une importance capitale. Actuellement, on fait l’extrapolation de la marche de pendules et de appareils d’émission de signaux horaire à une  millième  de second prés. La Comission International  de l’Heure, à l’Assemblée Génerale de l’Union Astronomique International qui sést tennue à Zurich, en août 1948, dans sa résolution, a demande de conserver cette précision. “
..................
“ L’emission de fréquences et , par conséquent, l’émission de signaux horaires, est nécessaire non seulement aux astronomes et aux géodésiens, aux navigateurs, aux explorateurs et aux services publics ( chemins de fer, aviation, etc, ) aux laboratoires scientifiques e industriels, mais aussi à l’étude de la propagation des ondes, à la comparation international dês étalons de frequences, aux  producteures e aux distributeurs d’energie électrique, à tous les usagers de la rádio ( fabricants d’appareils, stations d´émission, amateurs ), aux fabricants d’instruments de musique, etc. “
.................
“ Dans  le présent mémoire “ O Problema da Hora na Actualidade “, l’auteur, qui est déjà connu par ses travaux sur l’astronomie méridienne et le service  de l’Heure, étudie toutes les questions du service  horaire moderne.  Il commence par les applications nombreuses auxquelles se prêtent  les fréquences issues de étalons radioélectriques; la diffusion de l’Heure, puis termine par um Project de crèation d’un service horaire national.

La nécessité de créer um tel service, équipé selon la technique la plus moderne, est d’une évidence imperative pour um pays comme le Portugal qui, avec ses colonies, couvre une superfície totale d’environ 2.200.000 Km2 et dont les hardis navigateurs furent parmi les premiers à reconnaitre les rivages nouveaux et à donner du globe terrestre une image valable. “

N. STOYKO
Chef du Bureau International de l’Heure
Paris, le 29 novembre 1948

sábado, 2 de junho de 2012

O TEMPO E A HORA


INTRODUÇÃO

Depois de mais de 50 anos, perdido entre os livros, dossiers e papeis, que fomos acumulando ao longo dos anos, acabo de reencontrar um documento muito relevante e hoje histórico, sobre a problemática  da hora, sua medição e distribuição.
Trata-se de uma publicação do Sindicato dos Engenheiros Geógrafos de 1948 ( outros tempos... ), da autoria do Engenheiro Geógrafo, Capitão de Artilharia e Astrónomo do Observatório de Lisboa, José António Madeira,  onde é descrito  o “ Relatório  de uma missão de estudo  no estrangeiro “, intitulado  “ O Problema da Hora na Actualidade “
Neste relatório, o autor  descreve com detalhe o resultados  dos estudos  que efectuou entre Março e Setembro de  1947, como bolseiro do Instituto para a Alta Cultura,  em França; no Bureau International de l’Heure e no Observatório de Paris,  na Inglaterra; no Serviço da Hora em Abinger , no Observatório de Greenwhich e nas instalações dos Relógios Falantes de Londres  e também no Observatório de Uccle , na Bélgica.
Não vamos, obviamente,   descrever  aqui o relatório, mas não resistimos em reproduzir  algumas partes do seu conteúdo  por revelar , de forma notável, que independentemente dos sistemas políticos e dos apoios que tiveram, Portugal sempre  teve talentos que ambicionaram o progresso do seu país, nomeadamente  pelo  desenvolvimento das ciências e das tecnologias,  do seu tempo, como foi o caso do Engenheiro Geógrafo José António Madeira.
Com  simples homenagem, a este cientista português, pela sua dedicação à causa  da criação de um Serviço Nacional da Hora, nos próximos 10 “posts”, deste blog, iremos  descrever  pequenos  extractos, daquele relatório, relativos a:

1- Prefácio  do Relatório da autoria do Doutor N. Stoyko
então Chef du Bureau  International de l’Heure , Novembro de 1948.
2-  Apresentação do Relatório, pelo seu autor, no Instituto 
de Alta Cultura. Novembro de 1948.
3-  A Precisão Actual  da Determinação e Conservação da Hora.
4-  Determinação da Hora.
5-  Conservação da Hora.
6-  Relógios da Quartzo.
7-  Relógios de Diapasão.
8-  Projecto de um novo transmissor de sinais horários para
 Serviço da Hora em Portugal.
9-  Difusão da hora : Relógio Falante e Curiosidades Estatísticas.
10-Proposta  para a criação, em Portugal do Serviço Nacional da Hora.

Capa do Relatório

domingo, 13 de maio de 2012

sexta-feira, 6 de abril de 2012

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

CALCULO DE UA RODA PERDIDA- Transmissão

 A  página de TECNOLOGIA DE RELOJOARIA ,  tem  um novo  "Post " . Cálculo de uma Roda Perdida, no sistema de transmissão .

sábado, 4 de fevereiro de 2012

CALCULO DAS SEMI - OSCILAÇÕES POR HORA

 
Para os curiosos:

Com data de hoje, coloquei um novo " post ",  na página TECNOLOGIA DE RELOJOARIA
Tema:  Calculo das semi - oscilações por hora.
s / osc / h

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HOMENAGEM AO Pe. JOÃO LIMA TORRES


Há uns tempos a trás publiquei, neste blog, um pequeno artigo, sobre o Padre João Lima Torres, de Barcelos, e do seu interesse pela relojoaria, na qualidade de projectista e construtor de Relógios para as torres das igrejas.

Quis o destino que o autor do ANUÁRIO DE RELÓGIOS E CANETAS, o jornalista F. Correia de Oliveira lê-se esse artigo, o que deu origem à sugestão para que eu escrevesse, sobre o assunto, um artigo para o Anuário de 2011.

Assim, em baixo, disponibilizo, para os leitores deste blog, uma cópia do referido artigo.

Todavia, para os " amantes " da relojoaria, direi, que não se contentem com o artigo e comprem o ANUÁRIO DE RELÓGIOS E CANETAS -2011 ( nas bancas desde Dezembro ), porque vale a pena. Trata-se de um documento, sobre relojoaria, de qualidade internacional ! Parabéns ao Fernando Correia de Oliveira.






HOMENAGEM AO PADRE " Relojoeiro " JOÃO LIMA TORRES



Desde o início  do século XIV até meados do século passado os chamados Relógios de Torre, tiveram uma importância fundamental na informação horária ás populações, com particular ênfase nas pequenas e médias comunidades, onde além da indicação das horas e meias horas havia também o tocar de uma música tendo, em Portugal, ficado muito popular as conhecidas melodias do Westminster de Londres e a Avé Maria de Fátima,   divulgadas  pelos relógios de carrilhão  Reguladora, que  foram fabricados  durante mais de 100 anos, em V. N. de Famalicão .

Ao longo  dos últimos seis séculos e em particular depois da  invenção do pêndulo ( descoberta do isocronismo das oscilações - Galileo 1583),    dois locais público, adquiriram a primazia da colocação deste relógios de torre; As  Igrejas e os Edifícios Municipais. Não é por isso de estranhar que alguns Padres, enquanto homens de cultura e ciência, tenham encontrado na relojoaria um  hobby para os seus tempos livres.

Em 1970, enquanto director da Fabrica de Nacional de Relógios – Reguladora, em V.N. Famalicão, fui contactado por uma irmã da “ Casa Menino Deus “ das Franciscanas Missionárias de Maria, em Barcelos, sobre o interesse , para a Fábrica, na aquisição do espólio de relojoaria do falecido padre João de Lima Torres.

Observado o material exposto, conclui que tal não tinha grande  interesse para a fábrica , mas que o mesmo poderia ter alguma utilidade para um relojoeiro reparador. Aconselhei, por isso a irmã a contactar os relojoeiros de Barcelos e eventualmente de Braga sobre o assunto.

A irmã agradeceu a minha deslocação e para me “ compensar ” fez questão de me oferecer um envelope que continha um livro, sobre relógios eléctricos e alguma documentação sobre a actividade relojoeira do Padre Lima Torres, que eu desconhecia.  Antes de mais fiquei desde logo surpreendido pelo facto do Pe. Lima Torres dispor do livro sobre relojoaria eléctrica, que me estava a ser oferecido, pois em  Portugal  só conhecia,   então,  um exemplar daquele livro, que eu havia trazido da Suissa algum tempo antes. 

“ Religiosamente “ guardei aqueles documentos e são alguns extractos deles que hoje, por solicitação do Fernando C. de Oliveira,  publicamos  por se considerar relevante a sua divulgação, sobretudo para aqueles que como nós se interessam pela relojoaria, independentemente de até poderem  exercer qualquer  outra actividade.

Por força daquela  solicitação e na busca de uma fotografia do Pe. João Lima Torres, para valorizar este artigo, acabei por fazer alguma investigação sobre este ilustre  membro da comunidade católica e assim  cheguei a um seu sobrinho  neto , o Dr. Lima Torres , que por coincidência  é afilhado de baptismo do padre João. Ao  Dr. Lima Torres  os meus agradecimentos  não só o esforço para se conseguir  a referida foto mas também a informação que me forneceu  sobre a importância do Pe. João Lima Torres  como  musicólogo. Efectivamente o Pe. João Lima Torres  ocupa um lugar de destaque na bibliografia  de música  religiosa   do século XX dedicada a Fátima , de onde se destacam ; “ Carrilhões de Fátima “ – 1945  e várias Cânticos  produzidos nos anos 50 e 60  daquele século.
O Pe. João Lima Torres   que foi capelão da “ Casa do Menino Deus “ das Franciscanas Missionárias de Maria - Barcelos, durante várias décadas,  faleceu em Maio de  1968.

O padre João Lima Torres, não se limitava a ser um apreciador  de  relógios. Era um estudioso da  sua engenharia,  desenvolvendo  os seu próprios projectos; desenhava  e calculava  peças e sistemas para relógios  de torre, sob a marca Lusofaber, que criou,   contratando depois  a produção  das peças  em oficinas de Barcelos ( Serralharia Barcelence ) e do Porto ( J. Ramos & Irmão ) e quando necessário, com o recurso a acessórios de relógios do Jura Francês, onde este relógios se fabricavam desde meados do século XVIII e que na altura tinham um importador em Albergaria-a-Velha ( Miguel Marques Henriques ).

Em toda a correspondência trocada pelo Pe. Lima torres, quer com clientes ( colegas de outras paróquias ),  quer com fornecedores  é bem patente  a motivação do Pe.  Lima Torres em produzir  os relógios em Portugal  como forma de substituir as importações que então se faziam, dos mesmo  tipo  relógios

Pelas informações que obtive, enquanto director técnico da Reguladora, posteriormente  pela leitura  da documentação   que me foi confiada e agora  com a descoberta  da importância da sua  produção  musical dedicada a Fátima, nomeadamente  a sua obra “ Carrilhões de Fátima “ de 1945,  tudo indica, embora não o possa afirmar categoricamente,  que tenha sido o Padre João Lima Torres   o autor da melodia Avé Maria de Fátima introduzida nos relógios da Reguladora no princípio da década de 40 do século passado.  Ver em baixo a referência que faz  ao seu relacionamento com a Reguladora, em 1944, na  correspondência que troca  com  a empresa J. Ramos & Irmão, em Março de 1950.

A seguir  publicam-se alguns   extractos  da correspondência trocada entre o Pe. Lima Torre,   a empresa fornecedora  J. Ramos & Irmão e o cliente,  padre da igreja  São Romão – Ucha  (Barcelos),   sobre  o projecto, produção e instalação de um relógio de torre,   na igreja de São Romão da Ucha,  bem  como os cálculos da “ Rodagem do Movimento” e dos “Metros precisos para descida dos pesos “,   desenhos da “ Serra de Contagem “ e  do “ Mostrador de máquina “  e  duas fotos do mecanismo completo.

São documentos  que além de mostrarem  a capacidade criativa do Pe. Lima Torres , na área da  tecnologia e da engenharia  de relojoaria,   evidenciam também uma atitude  contributiva para  o desenvolvimento industrial que na época se começava a impor-se em Portugal.

Carta dirigida pelo Pe. Lima Torres ao Sr. José Leite, sócio gerente da secção de Máquinas, da firma J. Ramos & Irmão – fornecedor - em 12 de Março de 1950:

“ Na minha Agenda ( 10 do corrente ) apontara   o seguinte: Falar com algum dos donos da Fábrica particularmente, para ajustar contas equitativas, pondo em linha de conta os meus planos e direcção técnica na confecção  do novo relógio de torre  J. Lusofáber.”
…..
“ Repito o que já disse mais de uma vez: A Casa  é construtora competente de máquinas industriais, não de relógios ( que são máquina especiais, não industriais ). Ora, sendo assim, o meu caso como cliente é muito diverso; e assim diverso tem de ser o computo a fazer no artigo ( tempo gasto e oficiais especializados ). Como de relógios não percebem, evidentemente tinha eu próprio  de intervir com a minha engenharia e direcção técnica. Revelando lealmente os meus planos, dei à Casa a possibilidade de uma nova modalidade  de fabrico especial. Quando em 1944 apresentei à Boa reguladora  ( de Famalicão ) o meu novo carrilhão de sala  com todos os seus cálculos numéricos, os donos da fábrica apreciaram os planos  do novo relógio e a minha  franqueza em lhos confiar desinteressadamente , fabricando-me alguns acessórios e dando-me alguns outros do seu fabrico; e tiveram o gesto simpático de não me aceitarem retribuição alguma. Fizeram-me todos os serviços que eu  pretendia, nas mesmas  condições. Entenderam afinal, que eu  não era  fabricante; e, por isso,  não era um cliente normal, mas especial. “

….
“ quem me há-de  resarcir  do trabalho intelectual e corporal, que o novo relógio me tem acarretado …e isso por querer ser prestável a um colega amigo que deseja celebrar frutuosamente  as suas bodas d’oiro sacerdotais  ?...
Acresce que a freguesia de S. Romão da Ucha ( como em geral todas d’esta redondeza !) não tem industriais nem capitais, como essa de Lordelo de Ouro e as mais d’essa zona…Portanto  tenho empenho em não assustar em agravar o interessado! “

Carta dirigida pelo Pe. Lima Torres ao Pe. António Gomes da Costa  Abade da Ucha – cliente - em 21 de Maio de 1950

“ …Sobre a máquina do relógio devo dizer que é de primeira  qualidade ( em mateiral,  perfeição e rebustez  ), medindo-se perfeitamente com as suas congéneres francesas  ( que custam cá de 29 a 29 mil escudos, sem mostrador  e pesos, nem horas repetidas). Tenho aqui um catálogo , de Albergaria-a-Velha “   (   importador  Miguel  Marques Henriques ). …as minhas custam 15 mil escudo  ! “






Imagens

a)       Cálculo da  “ Rodagem do  Movimento ”
b)      Cálculo  dos  “  Metros  precisos para a descida dos pesos “
c)      Desenho da “ Serra de Contagem “
d)      Desenho  do  “ Mostrador da máquina “
e)      Vista lateral do mecanismo 
f)       Vista frontal do mecanismo

Notas Finais:
1- Foram vários os relógios de Torre  Lusofaber   produzidos  segundo projecto  do Pe. Lima Torres e instalados  em paróquias do norte de Portugal, embora  na documentação em causa haja  apenas referência  aos relógios das  igrejas da Ucha e de Vila Seca. Para  este último,   que  tudo indica seja anterior  ao  relógio da Ucha,  o Pe. Lima torres teria encomendado  o fabrico  das peças, de que necessitava,   na Serralharia Barcelense, em Barcelos. 

2-Em toda a correspondência trocada pelo Pe. Lima torres, quer com os Clientes ( colegas de outras paróquias ) quer com fornecedores  é bem patente  a motivação do Pe.  Lima Torres em produzir  os relógios em Portugal  como forma de substituir as importações que então se faziam,  deste  mesmo  tipo  relógios.

3-Numa época em que tanto  precisamos  de desenvolver a nossa indústria transformadora, parece de elementar justiça  salientar  a dedicação, o empenho e a criatividade  do padre João  Lima Torres, à causa  da relojoaria do seu tempo e à sua atitude  de produção nacional.  Também por isso  aqui deixamos esta pequena homenagem  a um homem que sendo   de  cultura espiritual,   quis partilhar com a comunidade   a sua  criatividade  e engenho de produtos bem terrenos .