De um leitor brasileiro, deste blog, o senhor Eng. José Liparizi,
recebemos um pedido de ajuda, na identificação do fabricante do
relógio de bolso que mostramos em baixo.
Diz-nos aquele amigo,
ter descoberto na relojoaria um " hobby " que está a aprofundar, na
medida em que a sua motivação vai crescendo proporcionalmente ao
conhecimento que vai adquirindo sobre ciência / arte dos relógios o
que já faz dele, hoje, um notável coleccionador de peças de referência .
Mostrador com informação do ano, do mês, dia da semana e dia do mês
Mostrador com foto, certamente do seu proprietário ou construtor ? |
O mecanismo pode ter sido adaptado, a partir de um outro importado |
É curioso verificar que toda a informação contida nos mostradores, frente e verso, está redigida em português. Este facto fez o nosso amigo brasileiro supor, que se trata de uma peça de origem portuguesa e devemos afirmar que acreditamos assim ser.
E, ainda que não seja fácil identificar o autor desta peça que, a avaliar pela informação contida no mostrador, parece ter construída no ultimo quarto do século IXX , este detalhe faz-nos reduzir substancialmente o número de opções .
De facto, sabemos que a partir de meados do século XVIII se inicia em Portugal uma significativa actividade de relojoaria, com a criação da Real Fábrica de Relojoaria , em Lisboa, que vai dar origem à produção nacional de diversos relógios de torre, parede e outros ditos de precisão ( bolso ? ). Na sequência desta actividade surgem, um pouco por todo o país, relojoeiros de grande nomeada, particularmente concentrados em Lisboa, Coimbra, Porto e Minho.
Por volta de 1880 existe, em Lisboa, um relojoeiro famoso, de nome Augusto Justiniano de Araújo, que desafia, com as suas criações, o que de melhor nos chega da Europa. Este relojoeiro, então conhecido com " Sábio Construtor de Relógios ", esteve particularmente em foco, quando apresentou, na Exposição Industrial de 1888 um relógio, de sua autoria, a que chamou de " Cosmocronómetro " , que acreditamos conter muita da informação que agora nos aparece, nas fotos do relógio que apresentamos .
Devemos realçar que o relojoeiro Justiniano de Araújo, não era um curioso da mecânica, estudou engenharia no Instituto Industrial de Lisboa, o que lhe permitia ter um entendimento correcto sobre desenho, construção e funcionamento de aparelhos mecânicos.
Segundo relatos históricos, sabemos ainda que muitos dos relógios deste " Sábio Construtor de Relógios " foram exportados, nomeadamente para o Brasil, Angola e Açores o que vem dar dar credibilidade à possibilidade do relógio que mostramos , em cima, ser de sua autoria.
Por último queremos lembrar Augusto Justiniano de Araújo, foi o fundador, em 1895, da Escola de Relojoaria na Real Casa Pia de Lisboa, que tendo fechado nos primeiros anos do sistema republicano, reabriu em 1951.
Depois destas " Dicas ", agradecemos toda a informação que possa ajudar o nosso amigo José Liparizi, a identificar o autor da sua " jóia " da relojoaria ( certamente portuguesa ), do século IXX.
Portugal só fabricou relojoaria grossa ou média, relojoaria pendular. Mesmo a Real Fábrica nunca terá produzido relógios de bolso. Augusto Justiniano de Araújo nunca produziu relógios de bolso, antes relógios de torre ou de parede, todos eles pendulares. Couzinha, de Almada, ou Cardina, da Nazaré, são exemplos de construtores nacionais de relojoaria grossa, enquanto a Reguladora, de Vila Nova de Famalicão, Calendário, também nunca foi além da relojoaria média, pendular ou de corda. Não se conhece um único exemplar de relojoaria fina (de bolso ou de pulso) até hoje produzido por um relojoeiro português. Quanto ao relógio em apreço, reveste-se assim de um interesse particular. Cumprimentos. Fernando Correia de Oliveira
ResponderEliminaruma análise mais atenta indica tratar-se de um Calendário Perpétuo, um tanto tosco, parecendo um protótipo, feito a partir de um calibre original, a que se foram acrescentando módulos. Tem indicação de data ("dias do mez"), dia da semana, mês, anos comuns e bissextos. As horas e os minutos são descentrados, com numeração romana, indica fases de lua (QC - Quarto Crescente; LC - Lua Cheia; QM - Quarto Minguante; LN - Lua Nova) noutro submostrador, havendo ainda um terceiro submostrador com indicação de "horas de salto", tradução do que hoje entendemos por "horas saltantes" (o ponteiro salta de hora a hora, numa escala aqui com numeração árabe).
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